3x4 Pic — edição especial de final de ano: uma retrospectiva com os designers André Matiazzo, Dani Matos e Raquel Prado

Letícia Pires
12 min readDec 28, 2020

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Caramba, chegamos ao final do ano! E que ano difícil. Olhando pelo prisma positivo, um ano de imensos aprendizados, um ano que juntos tivemos que pensar e repensar um tanto de novas soluções para dinâmicas já estabelecidas.

Continuo com uma saudade imensa de encontrar presencialmente o time. E enquanto o café não puder ser presencial na esquina, vamos de encontros virtuais e textinho de Medium.

Hoje temos uma versão especial com carinha de Retrospectiva 2020, aquele clássico do mês de dezembro. E não só isso: tem papo com uma das carinhas que ilustra essa “coluna”, vamos lá!

Hoje com vocês: André Matiazzo, Dani Matos e Raquel Prado!

André Matiazzo

é product designer e está no time desde Fevereiro do2019 — rumo aos 2 anos [it feels like 10 years — haha] 💙

“[Por conta da Pandemia e suas restrições que estamos vivendo em decorrência da Covid-19] ao conversar com nossos clientes e parceiros, sei que vamos falar sobre angústias concretas da vida dessas pessoas vivendo numa pandemia e, às vezes, colho menos dados do que, como designer, eu gostaria. Essa mudança deixa mais complexa a nossa percepção a respeito dos nossos usuários, o que é bom para construir coisas mais relevantes. […] mostra como nosso trabalho tem certos limites. Que tem coisas que não é com design que se resolve.”

Matiazzo, esse ano o ritmo dos projetos foi um tanto diferente. Ser designer e estar tão próximo as apostas de negócio também faz a gente sentir o mercado e as necessidade dos clientes com mais quentura. Quais são suas reflexões sobre ser designer com um mundo que virou de cabeça pra baixo com a Pandemia?

Em relação à proximidade com clientes, isso mudou. Precisou mudar. Lá por abril, começo da pandemia, todo mundo ficou inseguro e ansioso ao mesmo tempo. Nossos clientes tinham dúvida se teriam emprego, se conseguiriam pagar aluguel ou vender o imóvel que precisavam vender, por exemplo. Do nosso lado, como designers, a ansiedade de saber das ansiedades dos nossos clientes. E quando começamos a falar com as pessoas, percebi que precisei deixar de lado o “entrevistador” e ser mais uma pessoa disposta a ouvir. Isso continua até hoje, apesar de uma aparente “volta ao normal” da vida: toda investigação em que preciso conversar com nossos clientes e parceiros, sei que vou falar sobre angústias concretas da vida dessas pessoas vivendo numa pandemia e, às vezes, colher menos dados do que, como designer, eu gostaria. Essa mudança deixa mais complexa a nossa percepção a respeito dos nossos usuários, o que é bom para construir coisas mais relevantes. Mas ao mesmo tempo mostra como nosso trabalho tem certos limites. Que tem coisas que não é com design que se resolve. Ajuda a gente a ficar mais humilde também.

O que você listaria como os três maiores aprendizados deste ano pensando no seu processo como designer em entender as necessidade das pessoas e casá-las com oportunidades para o negócio?

1. Respeitar o tempo das pessoas. Foi só começar a pandemia que várias empresas começaram a fazer pesquisas para entender as expectativas das pessoas que usam seus serviços. Fizemos isso no QuintoAndar também. Mas olhando para trás, vejo que a gente ocupou o tempo das pessoas, naquele momento, mais para aliviar nossas ansiedades do que a delas. Agora, antes de decidir ligar para alguém que usa nossos serviços ou marcar uma conversa, me pergunto: vou fazer alguma coisa com as informações que eu descobrir ou estou só curioso?

2. Tomar cuidado com contextos sensíveis. Também tem a ver com pandemia (acho que tudo nesse ano teve a ver com pandemia) e quando começamos a enxergar oportunidades de serviços que poderiam aliviar ansiedades e problemas dos nossos usuários. Oferecemos algumas, mas o cuidado com a comunicação foi imensamente maior do que já costumamos ter. Eu lembro de ficar dias e dias para resolvermos o primeiro parágrafo de um email que iria para 100 pessoas, por exemplo. É um cuidado que acredito que sempre precisamos ter, mas que a pandemia ajudou a deixar isso ainda mais óbvio.

3. Mudanças na vida lá fora mudam a forma de usar o produto aqui dentro. É o aprendizado mais “designer” da lista. Já estávamos conversando, no QuintoAndar, sobre estudar mais o entrelace das jornadas de usuários e principalmente quando uma pessoa “vira” outro tipo de usuário no nosso ecossistema. Mas em 2020 adiantamos essa conversa porque começamos a perceber usuários de um tipo migrando para jornadas diferentes e virando outro tipo — inquilinos virando compradores, por exemplo. Foi uma lente nova que mudou a forma que eu investigo problemas e, no futuro, talvez mude até a forma como nos organizamos enquanto empresa.

E falando sobre os desafios em trabalhar em um time multidisciplinar?

Pra mim o maior desafio tem sido equilibrar autonomia com foco. No QuintoAndar, cada disciplina (design, engenharia, produto) tem suas responsabilidades, mas muitas delas são compartilhadas. E no design, especificamente, existe espaço para influenciarmos não só em decisões dos nossos squads, mas também na tribo e no chapter. Se você junta esse mar de possibilidades com minha vontade de saber de tudo um pouco é a receita de desastre: vou querer fazer mil coisas ao mesmo tempo e posso tanto me sobrecarregar quanto deixar pessoas na mão.

Quais são seus desejos para 2021?

Que o SUS precisa ser valorizado e não pode ser sucateado. E que se quisermos tirar algum aprendizado desse ano bizarro é que precisamos repensar o que é importante para a nossa vida coletiva no Brasil e no planeta.

Dani Matos

é analista de research ops e está com a gente desde Abril de 2020 — nossa primeira guerreirinha no remoto! Dani, um dia a gente vai se abraçar no mundo físico! Ah, vai! 🤗

“No tempo que estou aqui, já falei com pessoas do atendimento, do marketing, da infra, de operações, de dados e muitas outras áreas. Eu liguei a mesma chavinha que uso para pesquisas: a curiosidade genuína sobre o outro. Pergunte se sempre com quem mais se pode aprender. E se permita fugir da repetição dos rituais pré-estabelecidos.”

Dani, você foi a primeira a entrar nosso time na dinâmica remota, antes de isso virar um combinado de longo prazo. O que mais te surpreendeu pensando que já é quase um ano que você trabalha com um time sem conhecer uma única pessoa no mundo físico?

Até eu me assusto quando vejo que estou aqui há tanto tempo! Confesso que sempre tive a vontade de trabalhar com tanta gente incrível. Lembro que no início, fui questionada por diversas pessoas sobre mudar de empresa e mercado em um contexto de tantas incertezas. O frio na barriga foi grande, mas eu aprendi que o QuintoAndar não cuida apenas da experiência de morar no mundo físico. Me senti em casa entrando no time! Tão em casa que me abri para pessoas que eu só conhecia pela telinha. O que mais me surpreendeu foi que apesar de não saber nem as alturas das pessoas, consegui conhecer o mundinho delas em diversas camadas: conheci quartos, parentes, animais, quintais — e para criar sintonia no trabalho esse processo foi todo ❤.

O que você recomendaria para mais designers para se sentir mais próximos do time?

Na verdade, o que recomendaria é não tenha medo de perguntar e principalmente de mostrar quem você é. Independentemente da experiência com o produto, do tempo de carreira ou das grandes entregas de cada pessoa, estamos todos aprendendo sobre o que é esse novo jeito de trabalhar. O que me ajudou a criar essa consciência e me aproximar do time foi tirar dúvidas com pessoas diferentes. No tempo que estou aqui, já falei com pessoas do atendimento, do marketing, da infra, de operações, de dados e muitas outras áreas. Eu liguei a mesma chavinha que uso para pesquisas: a curiosidade genuína sobre o outro. Pergunte se sempre com quem mais se pode aprender. E se permita fugir da repetição dos rituais pré-estabelecidos.

Dani, você agora está focada em escalar a operação de pesquisa qualitativa, que aqui no QuintoAndar é feita principalmente por designers e PMs, quais são os maiores desafios na sua visão?

Acredito que o maior desafio é entender as peculiaridades de cada contexto para criar soluções mais adaptáveis. O tipo de investigação feita por cada tribo é muito diferente e têm necessidades específicas. Apesar disso, percebo que na prática uma solução só fica evidente quando percebemos padrões. Quando um problema surge eu sempre me pergunto: quem mais está sofrendo com isso? Dar esse zoom out é muito importante até para ajudar a encontrar a raiz do problema. Esse é um dos motivos pelos quais eu evito falar de operações de pesquisa como um processo linear. Esse é um trabalho baseado em descobertas e testes, como qualquer outro MVP de produto.

O que você mais gosta de trabalhar no OPS para times tão grandes? Quais são os seus maiores aprendizados nessa atuação?

Não existe tratamento melhor para ansiosos do que trabalhar com OPS — hehe!

O que eu amo — e é um desafio diário, não vou negar - é descobrir problemas, processos onerosos e os entraves que ninguém notou. Eu me sinto descobrindo pequenos potes de ouro. Quando uma empresa escala rápido como a nossa, é normal que os times se adaptem fazendo estudos que tragam resultados mais rápidos. Mas no caminho existem diversas melhorias que podem trazer tanto mais agilidade quanto qualidade ao trabalho. Meu objetivo é encontrar essas oportunidas e criar critérios para priorizar aquilo que é mais urgente. Tudo isso é muito divertido!

Como aprendizado eu citaria que a escuta é muito importante: ser uma máquina de produzir soluções sem entender se o que você produz é adaptável à rotina e às necessidades dos times, custa a sua energia e o seu tempo. Olho para operações como olho para pesquisa. Só que neste caso, os usuários são meu próprio time.

O segundo aprendizado é: você sempre pode ensinar algo a alguém. Meu primeiro pensamento ao chegar no QuintoAndar foi sobre como eu realmente colaboraria em uma empresa que os processos estavam estabelecidos e documentados. Parecia que minha contribuição não seria relevante. Hoje, alguns meses depois, com certeza eu trocaria o pensamento pra um simples “por onde devo começar?”

Quais são seus desejos para 2021?

Tomar a vacina e poder abraçar pessoas - rs! Nunca pensei que sentiria tanta falta disso.

Um desejo que tenho para nosso chapter é poder aos poucos crescer esse time de operações para ajudar ainda mais pessoas dentro e fora do QuintoAndar.

Um outro, para o mercado de Design é a disciplina de OPS se solidifique ainda mais. Há quem acredite que seja algo desnecessário. Não é o que eu acredito e vejo todos os dias com o meu trabalho.

Raquel Prado

é design manager e está fazendo a transição para atuação como principal. No mês que vêm você faz 3 anos de aniversário de QuintoAndar 🎂

“Recorrer aos nossos clientes… e colher feedback cedo, desenhar no quadro junto com eles [colegas de equipe], consultar outros designers, outros squads embasa o caminho que o produto precisa seguir. […] E não mais a aprovação de uma única pessoa na empresa”

Além de retrô do ano, quais são as três coisas que listaria que mais mudou no seu repertório como profissional de design?

1. Trabalhar com produto próprio: como muitos product designers hoje, também comecei trabalhando em empresas que prestam serviço de tecnologia para outras: software houses, consultorias, agências — empresas que investigam e criam um produto (ou parte dele) mas muitas vezes, após projeto entregue, o designer não consegue acompanhar os resultados e os impactos. Posso dizer que todo universo do “pós lançamento” de um produto era um grande buraco para mim. No Quinto, aprendi muito sobre estratégias e processos de melhoria constante, como organizar o faseamento de desenvolvimento baseado em testes, números e pesquisas.

2. Autonomia: logo nas minhas primeiras semanas, terminei uma primeira pequena entrega e perguntei para a product manager do meu squad: “certo, terminei, pra quem eu envio para aprovação?” — como quem manda um e-mail para um cliente. Para a minha surpresa, ela respondeu que ninguém ali tinha aquele “poder” e que eu teria que, junto ao squad e outros designers, ter um processo colaborativo e de feedback constante dos clientes até chegar na solução que julgaríamos ideal . Ali, eu entendi o que realmente significava ter autonomia e que o meu “jeito de trabalhar” mudaria radicalmente.

Recorrer aos nossos clientes e pessoas de fora da empresa garante muito que estamos no caminho certo. Além disso, percebi na prática que meus colegas eram uma das minhas melhores ferramentas para usar: colher feedback cedo, desenhar no quadro junto com eles, consultar outros designers, outros squads. Hoje, é isso que me dá embasamento e confiança para entregar algo pro produto, e não mais a aprovação de uma única pessoa na empresa.

3. Gestão de designers: mais da metade do tempo que estou aqui, atuei como gestora do time. Foi também pela primeira vez na vida! Com certeza, foi uma jornada de grande aprendizado: fiz um tanto de coisas novas e difíceis pra mim. Desde feedbacks críticos a ajudar a desenvolver a carreira de outras pessoas, de ter uma rotina de 1:1s a conduzir processos de recrutamento e contratação. É um grande novo repertório que construí.

São 3 anos, você não enjoou do assunto? Como você vê isso?

Sempre conto que quando entrei no QuintoAndar e descobri que na equipe éramos em~7 designers, imediatamente pensei sobre a real necessidade de ter sete profissionais de design para fazer um site de locação de imóveis. Mal sabia eu! Que ingênua!

Logo na primeira semana, vi o quanto o QuintoAndar era grande por dentro, um tanto de outros produtos menores que nem imaginava. Tem app para fotógrafo, vistoriador, corretor e tantos outros. E ainda contamos com uma enorme operação interna totalemente apoiada por tecnologia. Já era complexo há 3 anos atrás.

Hoje estamos ainda maiores e atendendo mais pontos e atores do sistema de moradia. Tudo isso pra dizer que é praticamente impossível enjoar dos temas — eles são muitos.

Cada vez que mudamos de squad ou de tribo é um pouco como mudar de emprego: você conhece pessoas novas, aprende uma parte do ecossistema até então inédita, conhece novas dinâmicas de trabalho, outros frameworks, outros problemas, outros usuários e contextos.

Certamente crescer como o QuintoAndar, exige demais dos seus colaboradores. Esse ano foi o mais difícil deles. O que você tem refletido de aprendizados? Seus e dos times que você lidera?

Tenho refletido bastante como ao longo dessa jornada a complexidade tem sido cada vez mais em relação à comunicação, alinhamento e mediação de conflitos do que sobre habilidades específicas de design de produto. São coisas dentro de um pacote que chamamos de “soft skills” (que poderiam ser traduzidas como habilidades interpessoais), ao invés das “hard skills” (habilidades técnicas) — que talvez seja o conjunto que, geralmente, desenvolvemos primeiro nas nossas carreiras.

Especialmente num papel de gestão, percebo o quanto planejamento, comunicação e alinhamento impactam diretamente em tudo o que fazemos: seja uma apresentação, um projeto ou uma dinâmica. E o quanto é importante dar atenção ao desenvolvimento dessas habilidades.

Além da vacina — hehe, quais seus desejos para 2021?

2020 foi tão caótico e cheio de incertezas. Então queria que 2021 fosse um ano de achar os eixos novamente — pelo menos, alguns, né? Não digo isso querendo dizer que as coisas devão voltar ao normal.

O ano que passou me exigiu questionar tudo: onde moro, o tipo de apartamento, a rotina, o equilíbrio entre vida online e offline, a atenção que dou às pessoas queridas, os planos de vida que quero botar em prática. Espero que 2021 seja um ano em que eu consiga sair do modo reativo e loucuragem que foi esse ano-quarentenado para achar algum equilíbrio no famoso — e já batido, me perdoem — novo normal.

Obrigada aos meus companheiros de café virtual e texto nos últimos minutinhos do dia 23/12

, e 💙

Valeu demais a companhia. Um ótimo ano novo para nós todos! 💫

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Letícia Pires

I help teams create engaging product experiences and new services. Design Director @QuintoAndar.